Eleito, Lula (PT) evoca a conciliação
A noite de ontem, 30, marcou a recondução de Lula (PT) ao Palácio do Planalto. O petista foi eleito pela terceira vez presidente da República, derrotando Jair Bolsonaro (PL). Lula alcançou 50,9% dos votos válidos, totalizando mais de 60,3 milhões de sufrágios. O resultado das urnas evidencia o processo eleitoral mais acirrado da redemocratização brasileira. Nessa linha, o presidente eleito manifestou-se poucos instantes após a oficialização de sua vitória, Lula usou o primeiro pronunciamento para tentar consolidar um discurso de conciliação e unidade.
O petista fez um pronunciamento breve, de cerca de meia hora, e optou pela organicidade. Lula seguiu aquilo que havia preparado e evitou o improviso. Na fala, encaminhou de modo reiterado a definição de sua vitória como uma vitória da democracia, e afirmou que não existem ‘dois Brasis’. Em seguida, Luiz Inácio Lula da Silva ponderou que irá governar para a integridade da população brasileira.
Prestes a assumir seu terceiro mandato, o líder do PT declarou que é momento de ‘baixar as armas que jamais deveriam ter sido empunhadas’. Lula estava ladeado de apoiadores, como a senadora Simone Tebet (MDB), a quem fez questão de agradecer, bem como a deputada federal eleita, Marina Silva (Rede). Em reiterados instantes de sua fala, o presidente eleito endossou o tom conciliador, indicando que terá como norte a superação da divisão que marca o Brasil. Lula declarou: ‘somos um único país, um único povo, uma grande nação’.
Eleito, ele aproveitou o espaço para apontar parte daquilo que será prioritário em sua próxima gestão. O político destacou o combate a fome, miséria, o reestabelecimento das relações internacionais, além da qualificação da política ambiental e o trato com a Amazônia. Falou, ainda, da necessidade de reindustrializar o Brasil, e restaurar e fortalecer programas como o Minha Casa Minha Vida, Prouni e Fies.
As palavras do petista foram acompanhadas com cerca de 450 jornalistas e veículos de imprensa do mundo todo, fato que reforça a relevância daquilo que foi expresso pelas urnas. Esse processo eleitoral era observado com bastante cautela pela comunidade internacional, em face da possibilidade de retórica de fraude que poderia ser invocada pelo presidente Bolsonaro (PL). Essa questão justifica, inclusive, a agilidade do reconhecimento mundial do petista como eleito. Biden, presidente do EUA, soltou comunicado público momentos após a oficialização da Justiça Eleitoral brasileira, ação seguida por países da América Latina e Europa.
Com um primeiro relato ao povo brasileiro feito em ambiente mais institucional e com intuito primordial de atender a imprensa, Lula realizou ainda no domingo um segundo discurso. No entanto, este segundo trilhou outro trajeto, em um trio elétrico instalado na Avenida Paulista, o eleito falou de modo improvisado e se emocionou em várias oportunidades. O tom de conciliação permaneceu, e parece que será uma tônica perene.
Todavia, o presidente aproveitou a oportunidade para questionar se haverá transição, já que até o momento o candidato derrotado, Jair Bolsonaro, não deu nenhuma declaração pública, e segundo apurado não estaria atendendo nem mesmo os auxiliares mais próximos. Lula também fez questão de enaltecer Fernando Haddad, Geraldo Alckmin e Dilma Rousseff.
Até 1° de janeiro de 2023 haverá muito a ser notado, já que Bolsonaro tem uma sanha autoritária evidente. É preciso notar se ele construirá algum constrangimento ao processo democrático, ou se mostrar-se-á alguém capaz de uma transição eficiente. Ainda presidente, ele percebe seu possível discurso de contestação ser esvaziado antes mesmo de vir à público, aliados importantes de seu governo, como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), já reconheceram o resultado.
Em um dia em que ações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) colocaram em xeque a decisão popular, é salutar que se veja o grito das ruas. É salutar que o Estado Democrático de Direito se fortaleça como nunca antes, que as instituições se reforcem e que o debate futuro se faça no ambiente das ideias, do diálogo e do respeito.
O discurso de Lula é de estadista, é um aceno ao espaço da democracia, tal qual sua vitória o é. Novos passos estão por vir, novos desafios e um processo de reconstrução. É preciso estar de olho nos rumos que moldarão a constituição do governo, e como será a esplanada. Uma coisa para Lula é certa: precisará de diálogo. Diálogo com o Congresso, e diálogo com o povo brasileiro. Pois é essencial que a unidade se faça real e não apenas retórica.