Paulo Júnior

Geraldo Alckmin: o poderoso vice-presidente

Algumas coisas sobre o próximo governo já estão evidentes, uma delas é o papel de Geraldo Alckmin (PSB). Político experiente, Alckmin claramente não aceitaria ficar escondido no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência, ele terá função determinante na terceira gestão Lula (PT). Em uma observação mais efetiva, o momento atual desenha o vice com mais poder desde a redemocratização brasileira. O ex-tucano lidera a transição, e com certeza não será futuramente um acessório decorativo.

A aliança entre Lula e Alckmin tinha uma função específica, traduzir para o eleitorado, e para o mercado financeiro, a construção de uma frente ampla de apoios ao petista. Simbolicamente tratava-se da união de dois antigos desafetos, já que os políticos trocaram farpas duríssimas durante suas vidas públicas. Político que mais tempo governou São Paulo e com identificação econômica liberal, o novo filiado do PSB era perfeito, era a simbologia política buscada. E assim, a chapa que se sagrou vencedora em 30 de outubro estava conformada.

Hoje, nota-se Geraldo Alckmin como peça chave para construção do que será o governo Lula a partir de 1° de janeiro de 2023, o ex-governador não lembra nem em um frame distante os seus antecessores. O primeiro vice de Lula, o empresário José de Alencar, também tinha uma função relevante, era uma mensagem de responsabilidade fiscal aos investidores brasileiros. Contudo, Alencar nunca conseguiu se impor enquanto voz a ser ouvida pelo ocupante do Planalto Central. Por sua vez, Alckmin já se faz ouvido, e aparentemente o presidente faz questão de ouvi-lo.

O contexto de momento indica uma presidência compartilhada, ou seja, Geraldo Alckmin não será Ministro, pois caminha para ocupar o posto de co-presidente. Nessa linha, o arranjo de instante conforma uma ambiência na qual o ex-tucano também comandará os rumos do país, descentralizando o poder que costuma alocar-se integralmente na presidência. Vem cabendo ao vice ser o apoio fiscal do governo eleito, partem dele as explicações para as declarações que afobam o mercado, é ele quem põe panos quentes e assegura que o campo social não será justificativa para a abolição de âncoras fiscais e de responsabilidade econômica.

Em sua primeira eleição, em 2002, Lula escreveu o que ficou conhecida como ‘carta ao povo brasileiro’, o texto trazia uma série de diretrizes que asseguravam à elite financeira da época que a sua gestão manteria compromissos de controle dos gastos públicos. Em 2022, Lula não refez a carta nos moldes clássicos, pois a carta que usou para tentar acalantar o mercado foi Geraldo Alckmin. Eis neste aspecto, também, o principal fato para ser Geraldo a liderar a transição e a explicar aquilo que em algum instante desagrada a burguesia nacional.

Lula e Geraldo estão alinhados, parecem funcionar na mesma sintonia. Os termos daquilo que os uniu aparentemente seguem sendo cumpridos sem arrodeio. Em quanto a lógica for essa, ver-se-á uma gestão compartilhada entre eles. Aqui é preciso ir além, pois, se os ventos seguirem os trajetos do agora, é provável que Geraldo atue na política brasileira como uma espécie de primeiro ministro. Ou seja, ele teria seu papel na gestão ampliado, enquanto Lula desempenharia um trabalho de reconstrução da imagem internacional do Brasil. Todavia, são cenas a ver.

Nesta novela, também é necessário averiguar como se dará o projeto da Esplanada dos Ministérios. Lula, naturalmente, terá a palavra final sobre quem assume cada pasta, mas, Alckmin também tentará mostrar-se relevante na definição dos nomes, é essencial observar quais nomes ele trará para o primeiro escalão e em que locais eles estarão.

O ex-tucano saiu de um vexame em 2018 para uma vitória significativa em 2022. Essa posição é o arremate em sua biografia política. O mesmo vale para a biografia de Lula, essa presidência é seu ato de atualização biográfica. Nessa linha, ambos têm desejo de sucesso e consolidação de influência, Lula já a tem há tempos, Alckmin vê a sua aumentar. Os dois desejam os holofotes, no entendimento atual a divisão vem dando certo, mas, ainda existe um governo para começar.