ColunasPaulo Júnior

Bolsonaro (PL) escolhe sair pela porta dos fundos

Ainda no comando do país, Bolsonaro mantém o comportamento de um não-líder. Demorou para reconhecer o resultado das urnas, negociou vantagens para falar no pós-eleição, e não condenou claramente as ações antidemocráticas. Ele confirma que permanece no porão da República.

Passada uma semana do resultado das eleições, muitas mensagens seguem sendo dadas, algumas por parte do governo eleito, e outras por parte do ainda governo Bolsonaro. No cargo, Bolsonaro já deixou algo luminar: não faz questão nenhuma de encontrar um meio de deixar o poder com um mínimo gesto de decência, o presidente escancarou que escolheu a porta dos fundos da democracia, e é por ela que sairá em 1° de janeiro de 2023.

Bolsonaro terminou o segundo turno com 49,1% dos votos válidos. Em números totais, o candidato a reeleição alcançou a marca de mais de 58 milhões de sufrágios. Esse quadro confere a ele um capital político inegável. Contudo, ao demorar cerca de 45 horas para reconhecer o resultado, Bolsonaro expressa que não tem apreço sequer pelos seus eleitores, o seu apreço é pelo poder, pelo controle. Ele deseja exclusivamente o ambiente do comando.

Esse contexto piora quando se verifica que a declaração feita pelo presidente derrotado não atua no campo da objetividade. O discurso de aproximadamente 2 minutos estava cheio de recados subentendidos. Quem tem deferência pelo campo democrático não apela às entrelinhas, e abusa da objetividade, diz aquilo que é necessário ser dito, reconhece o que se apresenta como urgente, e constrói meios de sair do poder pela porta da frente. Porém, agindo sempre no porão da democracia, Bolsonaro acostumou-se a escuridão, e como expresso no início: prefere usar a porta dos fundos.

A demora de Bolsonaro em falar dá conta da sua inoperância democrática, ele não se preparou para derrota. Não se preparou para de modo clássico reconhecer o desejo da maioria da nação. Nessa linha, calou-se. Calou-se na tentativa de que outros também calassem, e assim ele teria meios de costurar uma contestação ao resultado democrático das urnas. Porém, o silêncio não alcançou a institucionalidade; e Congresso, Judiciário, e políticos aliados ao bolsonarismo, reconheceram Lula como eleito. E, 45 horas depois, Bolsonaro teve que falar.

Ao discursar, tratou em parte significativa as obstruções golpistas de estradas ao redor do país como um movimento legítimo. Em seus ‘longos’ 2 minutos de declaração, tangencia as ações de bloqueio, sem dizer de modo direto da sua irregularidade. Ao invés de ser duro com quem atenta contra a constituição, o presidente diz apenas que os métodos estão errados. Decorridos mais 48 horas, e em face a escalada golpista, o político lança um vídeo mais enfático em condenar os atos, mas, sem esquecer de fazer um afago aos antidemocráticos. Bolsonaro é assim, age no campo da dubiedade.

Na dubiedade bolsonarista tudo é negociável, inclusive o seu reconhecimento de derrota. Para vir a pública, o presidente debateu com o comandante do PL, Waldemar da Costa Neto, a sua permanência na sigla. E na discussão, Bolsonaro conseguiu uma mansão bancada pelo partido, o posto de presidente de honra da legenda, um salário, e advogados para os 58 processos que estão na Suprema Corte e irão para Justiça comum. Para o ainda ocupante do Planalto, tudo tem um preço.

Importante salientar que, apesar de ser o ocupante oficial do Planalto, Bolsonaro tem ido pouco até lá. Depois da derrota o expediente ficou doméstico, seguidamente o político despacha, quando o faz, da residência oficial, o Palácio da Alvorada. Bolsonaro ainda é presidente, mas, parece que nem ele lembra disso.

Na obscuridão da história também fica nítido o uso e aparelhamento da máquina pública. Bolsonaro fez do Estado um cabo eleitoral a seu favor, e assim, vê-se um orçamento que não encontra recursos para assegurar aquilo que ele próprio prometia. Escondendo-se de seu legado, indica que deve viajar durante a posse do presidente eleito, tudo para evitar passar a faixa ao seu adversário.

Bolsonaro ainda tem pouco menos de dois meses a frente do executivo nacional, contudo, comanda um governo que acabou antes de seu fim oficial. Ele se diz capitão, porém, não conhece sequer o rumo que seu barco está tomando. E agindo como pária, é possível que seja extirpado do centro de poder. O ocupante do Planalto deixa um passado de inflação, cerceamento, corrupção institucionalizada, política econômica frustrada. Deixa um passado de descompromisso até com as suas pautas mais relevantes. Deixa um passado de Morte.

Bolsonaro sai pelo porão, na ambiência da escuridão. Sai no silêncio que lhe pautou nas 45 horas após a eleição. Ele sai com capital político, mas, não se sabe se ele conseguirá liderar um campo de oposição. Bolsonaro tem um rumo pós presidência, e isso está negociado com o PL, todavia, é preciso notar se ele saberá andar no rumo que ele próprio negociou.