ColunasEleições 2022Paulo Júnior

Começou o segundo turno

Depois de um primeiro turno acirrado e polarizado por dois postulantes, o país chega ao segundo momento de decisão. A campanha para o segundo turno já está nas ruas, e o caminho que os candidatos pretendem tomar é bastante evidente: tratar-se-á de uma campanha baixa. Uma campanha personalistica e de ataques. Notadamente não se perceberá um abismo entre os dois turnos, mas, neste momento é possível que os pântanos se tonem visíveis.

Os instantes de abertura do segundo turno foram marcados por discussões no campo da não política. Bolsonaro (PL) deseja reavivar os ideais inglórios de uma guerra santa, tenta se posicionar como salvador da pátria, tumultua o debate público e segue aos berros tentando manter-se na cadeira presidencial. Lula (PT) tem um tom mais moderado, porém, não há muito que possa ser feito, se não caminhar sob as águas do bolsonarismo poderá ver sua vantagem diminuir. Lula tenta evocar um discurso patriótico, apontar as incoerências do presidente. Porém, no segundo turno ele já foi engolido pela guerra santa, e atuará neste ambiente. Sabe que se não agir a vitória será mais dificilmente alcançada.

Os presidenciáveis estão em campo, Bolsonaro tenta encontrar meios de crescer no Sul e no Sudeste, a fim de compensar a desvantagem no Nordeste brasileiro. O petista Lula faz movimentos importantes, e também tenta ampliar sua margem nos redutos mais bolsonaristas. No entanto, a campanha do ex-presidente deve instaurar altas atenções ao Nordeste, com intuito de esticar a margem que Lula já conseguiu na região, o cálculo do PT é que isso faria com que um melhor resultado de Bolsonaro em outras regiões fosse compensado.

Bolsonaro, todavia, também se atenta ao Nordeste e, apesar de suas verborrágicas declarações, já conta com emissários em campanha a seu favor. O objetivo dele é tentar não perder votos no celeiro eleitoral do PT. A campanha bolsonarista tem noção objetiva de que reverter o quadro positivo ao petista é inviável. Mas, segundo as avaliações internas, se não houver um alargamento das intenções de voto do presidente na região a vitória torna-se, também, inviável.

Os jogos de apoio estão no tabuleiro. Lula colhe aproximações com o PDT, Simone Tebet (MDB), ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, José Serra, dos formuladores do Plano Real. Bolsonaro tem a atenção de políticos mais ligados ao Centrão, em sua parte reeleitos, além de cerca de sete governadores eleitos em primeiro turno. Todos precisarão ir às ruas, pois apoios apenas de discurso não serão efetivos ao fim de outubro. Os detalhes pantanosos de uma campanha baixa, é que por mais que o jogo pareça resolvido, ele não está. Então, Lula precisa estar em campo para manter a diferença conseguida e incentivar o eleitor a voltar às urnas. Por sua vez, Bolsonaro está em campo para assegurar que suas medidas ganhem um traje menos absurdo, e assim ele consiga alargar os votos para além dos já conquistados. Bolsonaro brinca com a narrativa eleitoral, desorganiza a realidade e tenta reorganizar em uma embalagem que lhe garanta destaque positivo.

Lula e Bolsonaro irão novamente percorrer o país, e o eleitor será mais uma vez chamado a refletir sobre o que está em jogo nesta eleição. O segundo turno dá sequência a polarização, e também dá sequência a sanha autoritária que mora em um dos concorrentes. O campo democrático segue em jogo, e nesta partida o grande derrotado pode ser a democracia, caso o eleitor seja usado, e movido como uma eterna massa de manobra.