Vamos falar de voto útil e democracia
As últimas semanas estão sendo tomadas por discussões em torno do que se vem denominado ‘voto útil’. Contudo, neste momento, qualquer debate que busque o bem-estar da nação deve ser colocado em face a um conceito mais amplo: a democracia. Discussões que almejam mitigar as possibilidades de um golpe de Estado, em qualquer que seja o seu modelo, estão no campo da manutenção da democracia. E, no atual instante brasileiro, as perspectivas que são postas em frente ao voto útil são anguladas com intuito de garantir as primazias básicas que não se pensava correr o risco de perder.
Quando se diz de ‘voto útil’ é fundamental deixar as questões o mais evidente possíveis. Esta ação não busca despossuir nenhum cidadão do seu direito máximo de votar em quem desejar, ela almeja ensejar no corpo social uma reflexão sobre os caminhos mais próximos. Em 2022 o tecido político nunca esteve tão tensionado, as possibilidades de ruptura democrática há tempos não eram tão sentidas. Portanto, quando se fala em ‘voto útil’ fala-se em agir no instante primeiro, a fim de evitar destruições futuras.
Os anos de governo Bolsonaro estão deixando um lastro hediondo em seu caminho. O próximo comandante da República herdará um país que revive a inflação, a desvalorização do salário mínimo, o desemprego, a fome. Herdará um país inflado pela irá vazia e sem propósito, um país ainda mais descrente no campo da política como meio de transformação social.
O próximo presidente do Brasil observará uma nação que persiste dividida entre a passionalidade e a racionalidade; entre um conservadorismo raso e a necessidade de progresso em determinadas pautas; entre a violência e o diálogo. Um país dividido entre o passado e a ânsia de futuro.
Nessa linha, aponta-se que o próximo gestor deste país deve ser alguém que compreenda que ambientes precisa acessar, que entenda em que locais deve agir. É necessário que haja na presidência da República um líder, e não um refém do Centrão. É essencial que haja no Palácio do Planalto alguém com capacidade de avultar olhares para além da Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Quando se diz de ‘voto útil’, diz-se de um pensamento que coloca a verdadeira política em primeiro lugar. E colocar a verdadeira política em primeiro lugar é compreender que por vezes é necessário recuar em algumas posições, a fim de que contextos mais abrangentes sejam atendidos. É atuar para que o risco de permanência de um ingestor à frente do país seja ao máximo reduzido. É ser ativo e negar que a população mais vulnerável seja utilizada parcamente como massa de manobra, é não permitir que o poder seja instrumentalizado como ferramenta exclusiva de manutenção de poder.
O ‘voto útil’ não finda com as críticas que devem ser feitas, ao contrário, elas são realçadas. Pois essa ação coloca quem à pratica como alguém que pensa em realce primeiro no futuro deste país. E quem pensa no futuro do país e tem a disposição de retroceder nas suas opções de escolha, unicamente, para garantir o futuro do seu país, tem o dever ser o crítico que desejar ser.
Ao olhar o horizonte hoje a paisagem é conhecida, vê-se um Brasil com instituições sob ameaça. Vê-se um presidente cuja a sanha autoritária é sem par recente; vê-se uma sociedade trincada; vê-se a urgência de rever o horizonte.
No campo eleitoral, a paisagem também está conformada, mudanças são pouco prováveis. Portanto, quando se pensa em democracia é relevante pensar em primeiro turno. Hoje, o Brasil é paciente em estado grave, e há chances de injetar uma dose revigorante em 2 de outubro. Para que isso ocorra vem à tona o falado voto útil, um voto que projeta a salvação do país como ordem primeira. Ao fazer isso, o espaço da crítica será mantido, pois o ambiente democrático também será. E a garantia da democracia é o passaporte para novas mudanças, e em quatro uma proposição ainda mais grandiosa poder-se-á fazer. Um passo por vez, desta vez o passo é o do ‘voto útil’, o passo para seguir vivendo em um estado democrático.