A vitória em primeiro turno está ficando menos possível
Em um país continental como o Brasil, realizar uma campanha majoritária exige uma estrutura considerável. As distâncias são exíguas, a população é heterogênea e os problemas abissais. Portanto, vencer em primeiro turno é um feito quase incrível, devido a dificuldade de convencer objetivamente mais de 50% do eleitorado brasileiro de votar em determinado postulante. O PT sabe disso, e observa com muito conservadorismo a possibilidade de vitória no primeiro turno.
Algumas semanas atrás, a crença em uma consagração ao líder do partido em primeiro turno era maior, alas importantes da sigla chegavam a dar a corrida presidencial como encerrada em 2 de outubro – dia do primeiro turno. Contudo, as ações do atual morador do Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro (PL), tem tornado este quadro menos factível. O aumento do auxílio Brasil para R$600, a concessão de benefício à caminhoneiros, e as recentes reduções no valor dos combustíveis, tem feito o postulante a reeleição crescer nas pesquisas de intenção de voto.
Nessa linha, aponta-se que dos seis últimos levantamentos, apenas um indica a chance de vitória em primeiro turno. Bolsonaro tem reduzido a diferença para o ex-presidente, apontando para a construção de um segundo turno entre os dois. Os dados recentemente divulgados posicionam o atual processo eleitoral como o mais polarizado desde a redemocratização, superando o pleito de 2018.
Lula e Bolsonaro tem saído pela tangente, evitando alguns confrontos e buscado se expor em ambientes controlados, a fim de mitigar questionamentos danosos às suas imagens. Todavia, com o início oficial das campanhas marcado para esta terça, 16, esse fato deve mudar. As campanhas já vêm em tensão considerável, e esse nível deve aumentar significativamente.
A campanha Lula (PT) almeja liquidar a fatura em 2 de outubro; por sua vez, a campanha Bolsonaro fara o impossível para esticar essa decisão até 30 do mesmo mês. Neste campo, o que se observará é um ambiente de extremismo e um período eleitoral que, além polarizado, pode ganhar nuances de brutalidade e truculência, como já fora visto recentemente.
O campo petista vem atraindo um volume considerável de apoiadores, ampliando a linha de alianças e costurando um discurso de unidade nacional. Esse discurso passa pelo alastramento da base de apoio, incrementada por partidos como Avante e Pros. O ex-presidente viveu uma pré-campanha financeiramente dura, já que as finanças petistas seguem comprometidas. Logo, o presidenciável compareceu a bem menos compromissos do que o que fora inicialmente pensado.
Entretanto, agora a situação está sob nova ótica, a sigla conta com o segundo maior fundo eleitoral do ano: são quase R$500 milhões. E não há dúvida de que a agremiação investirá a maior parte para buscar assegurar a recondução de Lula ao Planalto. Não obstante, cabe bem ponderar o conservadorismo do partido, que consciente das dificuldades do primeiro turno, deve buscar formas de garantir recursos para chegar até 30 de outubro.
Logicamente que o ex-presidente não vem sendo ameaçado na liderança da disputa, segue pontuando acima de 40% em todos os questionamentos. Porém, ao que parece, o petista encontrou um tento de intenção de votos, e a partir de agora precisará extrair percentuais de seus adversários para crescer, algo que de modo objetivo não está ocorrendo.
Em contrapartida, Bolsonaro mira exatamente no campo em que o petista é forte. Em face a um estelionato eleitoral, o presidente dá o mínimo a quem tem fome, a fim de que ao dar o mínimo remova deles o máximo no campo da cidadania democrática: o voto. O ocupante do Planalto Central também tenta mitigar sua rejeição no público feminino, neste espaço a dificuldade tem sido maior.
Ao PT vem cabendo a construção narrativa, mantendo vivo o ideal do primeiro turno e preparando-se para o embate em segundo. A legenda avalia o impacto das ações do principal adversário, e deve usar de todo o seu arsenal midiático, político e econômico para buscar para si os percentuais incrementados à campanha Bolsonaro.
Nesse bojo do primeiro turno, não se pode, todavia, esquecer da candidatura Ciro Gomes (PDT). O pedetista está consolidado em terceiro lugar, e conta com um eleitorado bastante fiel. Portanto, os rumos que Ciro tomar durante a corrida tem potencial de interferir diretamente no resultado, a ponto de trazer encerramento em primeiro ou em segundo turno. As eleições de 2022 passam obrigatoriamente por ele, e quanto a isso não há o que se contestar. E sim, Lula e Bolsonaro sabem disso, e usarão essa perspectiva em breve.