Festival Choro Jazz é aberto em Jeri n esta terça. Evento prossegue até 08/12
O grande encontro da música do Brasil, em Jericoacoara, foi aberto com grande público e muitos elogios aos shows, na noite desta terça-feira, 3/12, no palco montado na praça principal da vila. Com uma programação repleta de grandes nomes, sempre com acesso gratuito, o Festival Choro Jazz está comemorando 15 anos, mais uma vez sendo apresentado pela Petrobras. O evento chega a Jeri depois de realizar etapas em Soure, no Marajó-PA; em Belém-PA; no Crato, no Cariri, e em Fortaleza, no primeiro ano como festival itinerante.
Agora o festival chegou a Jericoacoara, com uma maratona de shows e oficinas, iniciadas nesta terça e que seguem até domingo, 8/12, em uma grande imersão musical, com artistas, produtores, técnicos, público, moradores de Jeri, visitantes vindos de outros municípios cearenses, outros estados brasileiros e de vários países convivendo ao longo de uma semana, tendo a música como elo, motivo e inspiração.
O projeto conta com a idealização e a curadoria de Antônio Ivan Capucho; organização da Iracema Cultural, coordenada por Aline de Moraes e equipe; apoio da Autarquia Jeri e da Prefeitura de Jijoca de Jericoacoara, do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, equipamento da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar do Governo do Estado do Ceará; numa realização do Ministério da Cultura e do Governo Federal, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Na programação desta quarta, além das oficinas ao longo do dia, os shows, a partir de 20h30, do Trio Júlio, do maestro Nelson Ayres e de Gabriele Mirabassi e do Nosso Trio, formado pelos mestres Nelson Faria, Ney Conceição e Kiko Freitas. Tudo com acesso gratuito.
Maratona musical ao longo de todo o dia
Nesta terça-feira, o festival foi aberto com as oficinas realizadas pela manhã e à tarde, com grandes mestres da música brasileira, como o baterista Kiko Freitas, o trombonista François de Lima, o guitarrista Nelson Faria, o contrabaixista Ney Conceição, o clarinetista Paulo Sérgio Santos, o violonista Mauricio Carrilho, o bandolinista Pedro Amorim. As oficinas seguem até sexta, no Polo Cultural e no Conselho Comunitário de Jeri, com acesso gratuito, em uma interface de formação que é um dos principais atrativos do festival, para muitos participantes.
Já a programação de shows teve início às 20h30, na praça principal, com grande público e muita atenção e sensibilidade para o espetáculo “Asas de um Migrante”, com Ivon Martinez e 11 crianças de Jericoacoara. Uma produção teatral e musical esmerada, que encantou a plateia, incluindo familiares e outros moradores de Jeri, Jijoca, do Preá e de localidades vizinhas. Momentos de forte emoção, com as crianças atuando com figurinos elaborados, dinâmicas cênicas, efeitos visuais, trilha sonora especial, em um espetáculo que mobilizou a cidade e chamou atenção dos visitantes também pelo nível de complexidade e cuidado. Tudo chamando atenção para uma mensagem importante, a do cuidado com a natureza, o meio ambiente.
Logo depois subiram ao palco o cearense Jorge Helder e o brasiliense Lula Galvão, em um belíssimo show, com muitos elogios do público. O dueto de violão e contrabaixo, reunindo dois dos mais experientes e aclamados músicos brasileiros, que costumam se dedicar a acompanhar e dirigir outros artistas e que nesta terça mostraram seu próprio trabalho, chamou atenção desde o início pela sutileza e pela sensibilidade. Pelo encadeamento dos instrumentos, pela cumplicidade e pela fluidez da dupla, entre harmonizações, solos dos temas, improvisações inspiradas, com cada um crescendo e indo mais longe, a partir do que o outro tocava, trazia, propunha.
“Parece que ensaiaram um ano inteiro”, comentou Aquiles Rique Reis, integrante do clássico grupo MPB-4 e crítico musical, um dos convidados a acompanhar e divulgar o festival em Jeri. Foram três ensaios, na verdade, pontuou Jorge Helder, o cearense que desde os anos 80 se radicou inicialmente em Brasília e depois no Rio de Janeiro e que hoje integra os grupos de Chico Buarque e Maria Bethânia, sendo um dos diretores musicais do show de Bethânia e Caetano, um dos espetáculos mais aclamados de 2024, em turnê nacional. Mas o entrosamento, o diálogo permanente, a criatividade e a inspiração com que Jorge e Lula se apresentaram nesta terça mostram que a empatia e a cumplicidade vêm de muito antes.
“Esse cara foi meu mestre desde os 17, quando eu tava chegando em Brasília. Ele já tocava como tá tocando hoje! É impressionante esse cara!”, destacou Jorge, no palco. Lula também falou da emoção e da honra de tocar ao lado de Helder, no Ceará. E a cada tema o duo chamava mais atenção pela dinâmica entre baixo elétrico e violão, pela riqueza do repertório mas principalmente da forma de apresentá-lo, com cada músico se alternando entre harmonizar, solar, acompanhar, improvisar. Percebendo o outro. Escutando. Interagindo. Criando a partir da criação do colega de palco.
Assim foi, desde a abertura do show, com “Amazonas”, de João Donato, até destaques como “Radamés e Pelé”, de Tom Jobim, o “Prelúdio No. 4 de Villa Lobos”, até o encerramento com “Salvador”, de Egberto Gismonti. Passando, entre outras, pelas maravilhosas autorais “Caroá”, de Jorge Helder (“Um baiãozinho que fiz em homenagem ao meu Ceará”) e “Abaporu”, apresentada pelo baixista cearense como “uma música do Lula, que ele nem queria tocar, mas vai ter que tocar. É linda!”. Muitos e merecidos aplausos e cumprimentos para Lula e Jorge, com muitos da plateia querendo mais.
Um super sexteto do jazz cearense
Após a sutileza da formação em duo, o palco do Festival Choro Jazz recebeu um super sexteto do jazz cearense, em um show simplesmente arrebatador, que fez com que muita gente já o elogiasse como um dos melhores do festival, já na primeira noite. O saxofonista e flautista Marcio Resende, “o professor”, o acordeonista Nonato Lima, a cantora Nayra Costa, o guitarrista Stênio Gonçalves, o contrabaixista Miqueias dos Santos, o baterista Paulinho Santos e o saxofonista Jorge Doudement, convidado especial, fizeram uma apresentação memorável, com muita energia, musicalidade e entrega. Com arranjos complexos e muito espaço para a improvisação, desde o início, mostraram o altíssimo nível da cena musical cearense, realidade conhecida há décadas por muitos e que encontra no festival um caminho para ser divulgada além-fronteiras, pelos jornalistas que cobrem o festival, pelos colegas músicos, pelo público que vem de outros estados e países.
Quem não conhecia tão de perto o trabalho desses artistas ficou, literalmente, de queixo caído com o espetáculo. Foi o caso do jornalista, DJ e produtor cultural paulistano Jota Wagner, que se derramou em elogios ao show. “Estou impactado! É o bebop cearense. Que show! Que show! Valeu a viagem para o festival. Se o bebop tivesse acontecido no Ceará, seria assim”, disse, após aplaudir os improvisos ousados e mobilizadores de Resende, Nonatinho, Stênio, na maior parte do show, e também de Miqueias, Paulinho e Jorge, na sequência final da apresentação.
O mergulho no jazz, o amplo espaço para a improvisação e o altíssimo nível dos músicos se mostraram aos novos públicos desde o primeiro compasso. Também pudera! Marcio é formado na Berklee e na New England, Nonatinho foi acolhido pelo francês Richard Galliano, Stênio é um dos guitarristas de jazz mais aplaudidos e requisitados em Fortaleza, Miqueias integrou por muitos anos a Marimbanda e o projeto Timbral, Paulinho é um dos bateristas mais dedicados ao jazz, Nayra teve exposição nacional no The Voice, trafega por diversos estilos e hoje toca sua carreira em São Paulo, Jorge é um jovem músico que já lançou vários discos e cumpre constante agenda internacional. Uma seleção de craques, arregimentada por Antonio Ivan Capucho, idealizador e diretor do Festival Choro Jazz, especialmente para esta etapa do evento.
E, o mais importante em projetos coletivos desse tipo: o encontro deu liga! Desde a inicial e arrebatadora “Flying upside down”, com a guitarra de Stenio brilhando, antes do saxofone soprano de Marcio e do acordeom de Nonatinho, em um jazz marcado no contrabaixo de Miqueias e com variações rítmicas ternárias puxadas pela bateria de Paulinho, deixando claro que estava aberta a sessão de improvisação e que mestres nesta arte se revezariam nos chorus ao longo da noite.
Na segunda música, a primeira intervenção de Nayra Costa, com o clássico “Vatapá”, de Dorival Caymmi, com a flauta de Resende em uníssono com o acordeom de Nonato e depois improvisando. Antes de “Cinco motivos para ser feliz”, de Nonato, outra instrumental “pesada”, em cinco. E mais energia e improvisação vieram com “Saudades de Raul”, de Marcio Resende em homenagem ao mestre do trombone Raul de Sousa, e “Galliano no forró”, um dos melhores momentos da noite, tema de Nonato em homenagem a seu ídolo e amigo, com quem se apresenta anualmente na Europa. “É uma homenagem ao nosso encontro. Imaginem um francês dançando um forró”, brincou, após impressionar o público com a improvisação na sanfona.
“I remember April”, clássico do jazz de 1941, de Gene de Paul, foi outro tema escolhido pelo sexteto, com grande destaque no show. Nayra Costa retornou então, com o clássico “Triste”, de Tom, em uma versão… alegre, novamente com espaço para os solistas brilharem. E Jorge Doudement, saxofonista que fora aluno de Marcio, foi por ele convidado ao palco para a sequência final do show, incluindo “Nas Dunas”, tema composto pelo professor em homenagem a Airto Moreira e Flora Purim, com quem ele gravou recentemente em Fortaleza. A música ganhou um crescendo constante, no revezamento entre os músicos, brilhando nos solos. Um show muito aplaudido e um início e tanto para a etapa Jeri do Festival Choro Jazz.
Confira a programação dia a dia
O grande encontro da música do Brasil chega à sua etapa final em 2024 em Jericoacoara, onde nasceu em 2009 como um dos principais eventos do calendário musical brasileiro, oferecendo ao público atrações especialíssimas.
As apresentações do Choro Jazz na etapa Jeri começam às 20h30, de terça a sábado, e 19h30 no domingo, noite do show e da homenagem a Lia de Itamaracá. Confira a programação dia a dia:
Nesta quarta-feira, 4/12, a partir das 20h30, o Choro Jazz apresenta três shows, começando pelo Trio Júlio, composto pelos irmãos Magno Júlio (percussão) e pelos gêmeos Marlon Júlio no violão de sete cordas e Maycon Júlio no bandolim. Com repertório de ritmos brasileiros como samba, choro, baião e frevo, o Trio interpreta músicas autorais e de grandes compositores da música instrumental brasileira, com arranjos e adaptações próprias.
Às 22h o palco é de Nelson Ayres ao piano e Gabriele Mirabassi no clarinete, duo de mestres que promete arrebatar o público. E encerrando a programação da quarta, às 23h30, aplausos para outro encontro de grandes nomes, no grupo Nosso Trio, formado pelo contrabaixista Ney Conceição, pelo guitarrista Nelson Faria e pelo baterista Leonardo Freitas.
Na quinta-feira, 5/12, às 20h30, o palco é do Bianca Gismonti Trio, liderado pela aclamada pianista, ao lado de Fernando Peters no contrabaixo e Julio Falavigna na Bateria, com o espetáculo “Novo Set”, com uma sonoridade inovadora explorando rítmicas e harmonias inusitadas em temas autorais e arranjos inéditos para clássicos da música brasileira. Às 22h, a consagrada cantora Mônica Salmaso e o virtuoso pianista André Mehmari mostram seu show em homenagem a Milton Nascimento.
A sexta-feira, 6/12, tem às 20h30 o show “Canções em Movimento”, com Gelson Oliveira, Nelson Coelho de Castro e Zé Caradípia – todos nas vozes e nos violões, ao lado de Matheus Kleber nos teclados e Giovanni Berti na percussão.
Às 22h sobem ao palco Paulo Sérgio Santos (clarinete), Mauricio Carrilho (violão) e Pedro Amorim (bandolim), o grupo O Trio, com o choro em grande destaque. Às 23h30 hora e vez do João Bosco Quarteto, com o grande mestre da música brasileira ladeado por Ricardo Silveira (guitarra), Guto Wirtti (contrabaixo) e Kiko Freitas (bateria).
No sábado, 7/12, a partir de 20h30, serão dois shows, começando com Vanessa Moreno, uma das mais aplaudidas cantoras e instrumentistas da nova cena, com seu canto pleno de surpresas, rítmicas, precisão, ousadia, musicalidade e seu violão que combina esmero harmônico e virtuose no ritmo. Ela apresenta o espetáculo “Solar” ao lado de um super time: Felipe Martins (piano e teclado), Michael Pipoquinha (contrabaixo) e Renato Galvão (bateria). O guitarrista Pedro Martins faz participação especial.
Às 22h o palco é do referencial grupo A Cor do Som, com Armandinho Macedo na guitarra, Mú Carvalho no teclado, Dadi Carvalho no contrabaixo, Gustavo Schroeter na bateria, Ary Dias na percussão, em uma das apresentações mais esperadas desta edição do Festival Choro Jazz.
No domingo, 8/12, a partir de 19h30, o público vai curtir o último dia de festival começando pela apresentação de Armenina do Coco de Fulô, de Jeri, representando a cultura popular tradicional e os artistas de Jericoacoara.
Às 20h30, hora e vez do grande saxofonista Jota P e Grupo, com Danilo Silva na guitarra e participação de François de Lima no trombone.
E às 22h, encerrando o Choro Jazz 2024, a grande homenageada do festival, Lia de Itamaracá, ganha o palco de Jeri ao lado da Banda Ciranda do Mundo, com Ligia Fernandes (guitarra), André Luis (trombone), Erick Amorim (teclado e contrabaixo), Max Bruno (bateria) e Antonio José (percussão). Um show para o público participar junto a cada momento, vivenciar a magia de Lia, celebrar.
Choro Jazz em 2024: pela primeira vez, um festival itinerante
Apresentado pela Petrobras, que renovou sua parceria de patrocínio por ao menos dois anos, o Festival Choro Jazz chegou a 2024 com muitas novidades, acontecendo pela primeira vez de forma itinerante. As duas primeiras etapas do festival aconteceram em julho, no Pará, nos municípios de Soure e Belém, conectando-se com a cultura paraense, em destaque para a herança marajoara.
Com apoio também do Governo do Ceará e do Instituto Mirante de Cultura e Arte, o Choro Jazz chegou em setembro ao chão sagrado do Cariri, dos verdes vales, da Chapada do Araripe, sul do Ceará, das inúmeras tradições e manifestações da cultura popular tradicional e de uma infinidade de saberes e fazeres, em diversas linguagens artísticas, com destaque para a música.
O evento, que tem idealização e curadoria de Antônio Ivan Capucho e organização da Iracema Cultural, celebra seus 15 anos renovando o compromisso com a música, os músicos, o público. “É um grande encontro da música do Brasil, pra chamar atenção pra diversidade, a beleza, a intensidade dessa música, pra dimensão do nosso país e pra importância de termos ações como esta em outras regiões. É uma honra e uma alegria estarmos mais uma vez em Fortaleza e Jericoacoara com o Festival Choro Jazz”, destaca Antônio Ivan Capucho. O festival também contará com oficinas em Jeri, reunindo mestres e estudantes de música, nos turnos da manhã e da tarde. Uma grande imersão musical, em um paraíso natural. Assim é o Choro Jazz!
Serviço:
Festival Choro Jazz. Em Jericoacoara, na praça central, de terça, 3/12, a domingo, 8/12, a partir das 20h30, com exceção do domingo, quando os shows começam às 19h30. Oficinas pela manhã e à tarde. Acesso gratuito em todas as atividades. Apresentado pela Petrobras e pelo Ministério da Cultura, o Festival Choro Jazz conta com apoio do Governo do Estado do Ceará e do Centro Dragão do Mar, equipamento da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar. Mais informações: Instagram Festival Choro Jazz e www.chorojazz.com.