Paulo Júnior

O bolsonarismo precisa entender que a eleição acabou

O processo eleitoral tem um fim no momento em que alguém é declarado vencedor. Essa afirmação parece básica, e de fato é, contudo, no instante em que o país está o básico precisa ser declarado e afirmado repetidas vezes. As eleições brasileiras deveriam ter se encerrado em 30 de outubro, quando Lula (PT) sagrou-se vencedor da corrida presidencial, todavia, o bolsonarismo mais hediondo que existe tenta construir conspirações que atentam contra o Estado Democrático de Direito. Tentam consolidar um terceiro turno que maltrata e põe em risco diretos e bens bastante preciosos: a democracia e a liberdade.

Bolsonaro permaneceu recluso no Palácio do Alvorada por cerca de 20 dias. Neste período se achou que ele buscava engolir a derrota, porém, o que se vê na ação do PL, seu partido, é que o ainda presidente estava tramando um método de contestar institucionalmente o resultado. E no seu ideário louco viu-se uma aberração jurídica que afirma que as urnas do segundo turno estavam fraudadas, mas, as do primeiro turno não. Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, parece ter sucumbido ao bolsonarismo hediondo. Valdermar parece que sentiu saudades de ser um pária da República.

Entretanto, é preciso notar que existe mais. A ação do partido de Bolsonaro naufragou antes mesmo de começar. Logo, já pode ser vista como página virada, menos para o PL, que terá que arcar com uma multa de R$22,9 milhões por litigância de má fé, que se refere ao instante em que a Justiça é acionada de modo deliberadamente desleal, corrupto e com intuito de prejudicar o próprio sistema de justiça. Nesse bojo que finca-se no cotidiano do noticiário é essencial olhar para a ações comandadas por uma militância raivosa, que segue bloqueando estradas e impedindo que parte do país circule.

Essas atividades são em sua base antidemocráticas e assim precisam ser tratadas, são a base para um estado totalitário e que aceita como palpável a repressão da oposição. É absurdo que um político seja incapaz de reconhecer sua derrota, que seja incapaz de mobilizar seus apoiadores em face ao anseio basilar de qualquer nação: a liberdade.

A claque bolsonarista, pois uma parte do eleitorado de Bolsonaro deve assim ser denominada, é truculenta, agressiva. Essa claque não mede esforços para destruir o país. Não há terceiro turno, mas, eles querem fazê-lo, querem reconduzir Bolsonaro ao poder com base em ilações baratas, discursos vazios e uma retórica que abraça a morte e esquece a vida. A claque bolsonarista não enxerga um centímetro à frente do rosto, se entregou ao fanatismo e esqueceu que o endeusamento leva ao fracasso.

Discordar do resultado das eleições é natural e compressível, especialmente quando se desejava que outro postulante tivesse saído vencedor. No entanto, não é aceitável que a discordância se transforme em agressão direta, verbal e até física a pessoas que pensam diferente. Não é natural que as instituições que asseguram a sustentação democrática sejam postas em xeque. Não é natural que figuras públicas – artistas, políticos, influenciadores – tenham seu direto de ir e vir cerceados.

O Brasil parece encastelado, preso em um mundo de devaneios irracionais e com um exército que tenta tolher toda tentativa de romper as paredes do castelo. Esse exército raivoso e bolsonarista precisa ser colocado a margem, superado. Pois não haverá unidade nacional enquanto houver espaço para os delírios que atentam contra o campo democrático. Não existe amanhã quando a luta maior é para reescrever o passado. Não pode existir espaço para aqueles que lutam contra a soberania do povo.

As eleições acabaram e não haverá terceiro turno. Democracia se faz na urna, na vida, no cotidiano. Se faz diante de batalhas essenciais e que presam pelo direito livre de ir e vir. Democracia não se faz com a tentativa totalitária de mudar o resultado no tapetão, mudar porque um grupo simplesmente gostaria que fosse diferente.