ColunasEleições 2022Paulo Júnior

Ciro (PDT) escolheu o caminho da insensatez

Ciro Gomes (PDT) é candidato a presidente pela quarta vez, contudo, nesta eleição o pedetista subiu o tom de sua campanha e parece ter desenvolvido profunda intimidade com o campo do não real. Gomes faz falsas simetrias e parece não enxergar objetivamente aquilo que está expresso diante de seus olhos, e para quem fala tanto em salvar o Brasil, tem adotado um discurso muito mais separatista do que de união.

O pedetista vem colecionando declarações que beiram o campo do absurdo, a mais recente diz respeito ao que ele classificou como ‘fascismo de esquerda’. Ele mesmo não foi, e jamais será, capaz de dizer claramente o seria esse novo conceito. Ciro parece não viver no país que o restante da população vive, parece não enxergar o acirramento que o campo político e social experimenta. Ele consolidou um mundo fantasioso, e neste mundo, o cirismo tem todas as respostas, e aqueles que discordarem delas são, no mínimo, iletrados.

O ‘fascismo de esquerda’ que o pedetista tenta incutir na mente de sua militância é inexplicável, Ciro caminha com sorriso no rosto para o campo abissal de negação política que levou a nação ao contexto atual. O político que era considerado proeminente, sinônimo de inteligência e sagacidade, já não se parece mais com ele próprio. Na metamorfose Ciro Gomes ele deixou de ter características básicas de si, não lembra o político de quatro anos atrás, muito menos o governador cearense nos anos 1990.

Há uma trincheira posta na vivência brasileira, e é nítido o local em que Gomes resolveu pisar. Ele esquece os casos indescritíveis de violência política vividos apenas nos últimos meses, cidadãos foram mortos, agredidos. O próprio Ciro passou por instantes de complicação em um ato de rua. Porém, ao falar sobre o fato abraça-se em um discurso exclusivamente antipetista, optando por desver o quadro de virulência bolsonarista que se espalha pelo país. Ciro é celetista, mas, no seu mundo de fantasias isso com certeza ganha um outro nome.

O ex-governador evoca um ideal nacionalista que dia após dia se desconstrói. O nacionalismo de Gomes aparentemente só existe no instante em que ele é a voz a ser ouvida, o líder a ser seguido, o mago a ser imitado. Gomes aceita com uma tranquilidade nada incomoda a ânsia bolsonarista de contestar o resultado das eleições, agir por um golpe. Ele aceita passivamente a sanha de Bolsonaro sobre as instituições. Aceita essa aproximação estranha do cirismo com o bolsonarismo.

Há no Brasil, como dito anteriormente, uma trincheira colocada. E nessa trincheira o que deveria vir primeiro era a necessidade de manter o país à salvo do autoritarismo. Um líder crente das necessidades nacionais age para que seu povo viva sob o signo da liberdade, mesmo que sem a sua expressa liderança. Há momentos em que a decisão política olha por um espectro maior, em que os recuos são exigidos. Há momentos em que o voto se estabelece com intuito de garantir a possibilidade da crítica. Há momentos em que o voto não é de inteira concordância, é um voto para estar vivo em uma nação em que o contraditório existe, é para estar em um local em que a sanha autoritária esteja mais distante da esquina.

Gomes sairá menor, sua voz será menos ouvida e terá em seu lastro um conjunto de declarações que o perseguirão continuamente. Ele ainda tem uma semana para buscar um tom mais adequado, para rever seus caminhos e mostrar-se o líder que deseja ser. Caso haja segundo turno, terá novamente a chance de agir por um Brasil de primavera, ao invés de seca. Caso não faça nada disso, deixará sua quarta campanha pela porta dos fundos, e ao que parece ela sairá sorridentemente feliz com a pequenez alcançada.